Metroviárias recebem estudantes para conversa sobre desafios da carreira
28 abr 2024
Mulheres que ocupam cargos operacionais na companhia apresentaram suas profissões a alunas de escola pública de Ceilândia. Escola Metroviária, ligada à Diretoria de Administração, registrou mais de 4 mil capacitações em 2023
Texto: Cristine Gentil/Metrô-DF
Fotos: Paulo Barros/Metrô-DF
(Brasília, 24/04/2024) – Em 2017, um professor de física chamado Hébio Bezerra percebeu algo significativo: as meninas tinham as melhores notas em física, matemática ou química, mas raramente estavam entre as aprovadas nos vestibulares. Descobriu que elas nem sequer faziam inscrição para cursos voltados às ciências exatas, talvez porque não se vissem como engenheiras, matemáticas, programadoras, entre outras tantas ocupações nas quais o homem costuma ainda ter lugar de destaque.
De lá para cá, com exceção do período da pandemia, Hébio se dispôs a levá-las para conhecer mulheres bem-sucedidas, ocupando cargos que tradicionalmente “pertenciam” aos homens. No último 16 de abril, metroviárias contaram suas histórias para 40 meninas do ensino médio do CEM 09 de Ceilândia, onde Hébio e outros professores conduzem o projeto Meninas, que promove encontros entre gerações.
“De 32 meninos que entraram para Exatas em determinado período, apenas três conseguiram se formar. Eles entram e têm muitas dificuldades para acompanhar. E elas, que teriam mais condições de se formar porque estudam muito, acabam não se inscrevendo para essas áreas”, conta o professor Hébio.
O Metrô-DF tem cargos estratégicos da Operação ocupados por mulheres. “A área de Operação concentra umas 900 das 1200 pessoas que trabalham no Metrô-DF. E as quatro principais gerências são comandadas por mulheres”, conta Daniele Gomes Prandi, chefe do Núcleo de Desenvolvimento de RH.
São as gerências de Estação, de Controle Operacional e Tráfego, de Segurança e de Bilhetagem. Pelo menos as três primeiras comandam diretamente entre 200 e 300 empregados, a maior parte de homens. A gerente de Segurança, Paula Marinho Camargo, e a de Controle Operacional e Tráfego, Inalba Galvão, além da engenheira da área de manutenção Fernanda de Oliveira Soares e Sousa, conversaram com as estudantes.
Falaram sobre o que as levou a trabalharem nessas funções; sobre machismo e preconceito na jornada; sobre suas histórias de vida. “Existe muito preconceito contra as mulheres relacionado às profissões e aos cargos que tradicionalmente os homens ocupam. Mas a nossa presença aqui ajuda a quebrar esses paradigmas”, disse Inalba, que nasceu no interior de Pernambuco e, desde jovem, decidiu que não queria ser normalista, nem professora, destino de boa parte de mulheres na época.
“Minha mãe e todas as tias eram professoras até casar e, então, viravam donas de casa. Eu gostava de matemática, queria ser engenheira, não queria aquele destino delas para mim”, contou Inalba.
Quando ela fez concurso e passou para integrar o Metrô de Recife, não havia sequer banheiro feminino. Fez de tudo um pouco até chegar a Brasília, que estava na sua primeira seleção de empregados. Fez parte da implantação da operação do Metrô de Brasília, algo que a enche de orgulho.
“Eu adoro trabalhar aqui. É dinâmico, desafiador. Trabalho com uma equipe muito profissional. O Metrô é mais do que um meio de transporte, tem uma grande importância para o desenvolvimento urbano e a qualidade de vida. Um trem é capaz de transportar o equivalente a 16 ônibus e 190 carros de uma só vez”, contou para a plateia entusiasmada.
Responsabilidade
Gerente de Segurança, Paula nasceu e foi criada em Ceilândia. Administradora de formação, entrou para o Metrô em 2009. Em 2021, recebeu o convite gerenciar a área de Segurança do Metrô. “Não acreditei no primeiro momento, mesmo sabendo que tinha capacidade, currículo e experiência. É de uma responsabilidade absurda, não acreditava que essa oportunidade chegaria para mim”, contou.
Com estatura baixa, até isso reforçava sua impressão de que não seria convidada para a função. Ela conta que, sim, passou por formas de tratamento inadequadas, mas nunca desistiu. O preconceito também veio com maternidade. E mais uma vez ela provou que é possível conciliar a criação das filhas com a função. “Tenho orgulho de comandar uma equipe que salva vidas. Além de cuidarmos da segurança, atendemos a mais de 2 mil casos de primeiros socorros a cada ano”, explicou Paula.
2009 também foi o ano de Fernanda de Oliveira chegar ao Metrô. Engenheira formada pela UnB, hoje é uma das metroviárias que cuidam da manutenção. “Lembro que fui para um treinamento de uma fabricante de trens e, para ir ao único banheiro feminino, tinha que sair num frio congelante e ir até um galpão, que diziam ser mal assombrado. No segundo dia, disse que ia usar o dos homens. Tiveram de resolver”, conta, divertindo-se.
Para ela, existem obstáculos, sim, para mulheres nessas profissões. “Mulher que ousa estar nesses lugares têm que ter o espírito de se impor em diversas situações”, disse.
Visita às instalações
Após uma conversa inicial, as alunas do CEM 09 foram conhecer as áreas operacionais, guiadas pelas metroviárias, que explicaram em detalhes como funcionam o Centro de Controle Operacional (CCO), o galpão de manutenção e a área de monitoramento da segurança.
Raniely Vieira, 17 anos, estudante do 3º ano do ensino médio, é apaixonada por matemática e pretende fazer engenharia de redes. Acredita que tudo o que viu e ouviu é mais um incentivo para não desistir dos seus sonhos.
“Ouvindo tudo isso e vendo o que elas fazem me dá ainda mais força para chegar a cargos que só homens costumam ocupar. Quero chegar aonde outras mulheres não chegam e abrir caminhos”, conta Ranyele.
Escola Metroviária
A Escola Metroviária, ligada à Diretoria de Administração, promove programas de capacitação para formar e atualizar os empregados do Metrô-DF em competências técnicas, administrativas, operacionais e gerenciais, além de cursos, palestras e eventos motivacionais com foco no desenvolvimento profissional, pessoal e na qualidade de vida.
Também planeja e acompanha visitas monitoradas abertas ao público para conscientizar a comunidade sobre a importância do uso da energia limpa para o crescimento sustentável do país; a promoção de pesquisas no campo da inovação tecnológica e metroferroviária, e programas de integração e treinamento com outros órgãos, como Polícia Militar e Corpo de Bombeiros.
Daniele Gomes Prandi conta que, em 2023, foram ofertados, pela Escola, 30 cursos para a área meio e 203 para a área fim. No total, foram 471 capacitações para a área meio e 1.415 na área fim.
No ano de 2023, o Metrô-DF obteve 3.233 participações em diversos cursos ofertados pelo seu Corpo de Instrutores Internos, que são empregados especialistas e capacitados para instruir os colegas, como também por instituições externas.
“Na Escola Metroviária também capacitamos servidores públicos de diversas forças distritais e federais, como o Corpo de Bombeiros do Distrito Federal – CBMDF, Polícia Militar do Distrito Federal – PMDF, Polícia Federal – PF e outros órgãos públicos que participam de cursos e simulados nas dependências do Metrô-DF”, conta Daniele.